Um panorama da 2ª Marcha da Liberdade

Ontem fui na 2ª marcha da liberdade, realizada na avenida paulista, em São Paulo – SP; senti vontade de ir porque como estudante de Ciências Sociais, nunca tinha presenciado uma manifestação popular desse porte e por isso soou com uma obrigação em ir. Na semana que antecedeu o evento, conversando com um amigo por telefone, discutíamos a validade desse protesto. Citei pra ele uma reportagem da Folha, que colocava os jovens como “arroz de protesto”, onde a autora, a Sra. Anna Virgínia Balloussier, em poucas palavras e com duas jovens entrevistadas parecia ter diagnosticado o motivo real daqueles jovens estarem ali. Se essas duas jovens eram minoria eu não sei, porém enfatizei essa notícia para o meu amigo e salientei que diante da minha experiência ocular e embasado no que já li sobre a juventude no século XX, os jovens hoje em dia são quase estáticos quanto a situação política e social do Brasil.

Mas eu aprendi que pra dar uma opinião concreta, a presença no local é importante, a não ser que queiramos assumir um discurso retórico, e se transformar em um intelectual de gabinete, que construiu sua bagagem com livros e mais livros, internet e nunca saiu às ruas para ver com seus próprios olhos como a história é formada. Por isso, não fui influenciado o suficiente pela velha e leviana mídia que nunca relata o que realmente acontece em eventos desse porte e fui in loco.

Instigado pela oportunidade, fui a Avenida Paulista e chegando perto do Masp já vi o “Palocci” e a “Dilma” de mãos dadas a correr pelas calçadas. A polícia estimou em 2000 pessoas, mas achei que deveriam ter menos. As placas já estavam a mostra e a imprensa afoita, a busca da melhor foto, da melhor imagem. Às 16h10 saímos para o sentido consolação e começaram os coros de protestos que foram direcionados para diversos âmbitos; pela liberdade de auto-gestão dos corpos, no caso do aborto; contra a abusiva tarifa de ônibus de R$3, onde o excesso do valor não é convertido em qualidade e praticidade no transporte público; contra a construção da Usina de Belo Monte, no Pará; a favor de uma democracia direta; contra a homofobia e a favor da aprovação imediata da PL 122; contra o uso de armas letais pela polícia. A solidariedade aos bombeiros do Rio de Janeiro também estava presente. Até o apresentador Rafinha Bastos, do CQC, que no twitter, colocou que uma mulher feia deveria agradecer por ser estuprada, foi alvo de xingamentos; e também uma representante das empregadas domésticas estava no local. Porém os gritos que dominaram a marcha da liberdade foram a favor da legalização da maconha.

Defendo que a livre manifestação deve ser exercida, conforme está estipulada na constituição brasileira, porém quase todos os gritos foram pró-maconha. Não ouvi nenhum coro a favor de uma reforma na saúde e na educação, apesar de (sejamos justos) ver algumas placas onde a critica do sucateamento educacional e a busca ensandecida por diplomas estavam escritas. Deve-se lembrar que a Marcha da Liberdade foi criada em conseqüência da repressão policial na Marcha da Maconha, em 21 de maio e num ato inteligente dos organizadores, uma nova marcha a favor de várias questões que estão sendo discutidas no país inteiro foram reunidas com um propósito de gritar contra a censura e a favor da liberdade de expressão.

Um fato que eu achei interessante foi o número de jovens que estavam no evento. Sem dúvida a maioria era de jovens e só o fato de estarem lá, ao contrário do que enfatizou a repórter da Folha, já mostra que ainda há uma parcela da sociedade que não se conforma com o status quo e por isso expressa a sua revolta na avenida mais expressiva de São Paulo.

Contornamos a avenida e depois de duas horas, finalmente chegamos a Praça Oswaldo Cruz, na região do paraíso, com a polícia nos acompanhando sempre e atenta.

Como estudante da sociedade, elogio esse ato e é importante que a juventude tome conhecimento dos assuntos que os cercam e saibam que ela é o motor para uma mudança nesse país. Torço para que esse movimento cresça consideravelmente e, acima de tudo, busquem uma unidade e reivindique uma sociedade mais justa, baseada na igualdade, no recíproco direito de livre expressão e contra a censura que em pleno século XXI ainda está em voga, em um Estado que parece laico, mas não é.

Anthony Cardoso